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Saturday, January 21, 2012

«Requiem» pela língua portuguesa

A língua portuguesa é muito maltratada. Os erros são o pão de cada dia, mas ninguém actua, tudo se transforma em produto de consumo e não há meio de prevenir esta calamidade nas páginas da imprensa, na rádio, na televisão, na publicidade, nos «sites»... E não se trata apenas de «gralhas» -- a situação é mais grave e induz em erro milhares de leitores. Os interesses económicos quase acabaram com as revisões e estão a assassinar a língua portuguesa, a par do desinvestimento dos governos nos programas escolares de português.
É preciso lutar contra este estado de coisas. Quem não conhece minimamente a «ferramenta» (a língua) não está habilitado a escrever/falar nos órgãos de comunicação social. Concordo com Diogo Pires Aurélio quando afirmou, no «Diário de Notícias», que «as questões de linguagem não são iguais às da matemática». Também não caio no exagero de dizer que «há 20 anos se escrevia e falava escorreitamente e que, de então para cá, se caiu na mais completa penúria e ignorância». Então, como agora, havia quem dominasse a língua e quem a tratasse a pontapé, quem se exprimisse correctamente e quem não debitasse senão asneira ou «palha», como diria o Eça.
Dito isto, um erro é sempre um erro, mesmo que as questões da linguagem não sejam iguais às da matemática. Não se trata de exigir a perfeição, mas de higienizar a escrita, sem esquecer, como bem alertou Diogo Pires Aurélio, que há outros aspectos preocupantes como os «emaranhados sintácticos em que não há meio de se perceber do que realmente estão a falar ou a escrever».
É preciso lutar contra este estado de coisas. E, se não conseguirmos inverter esta situação, gritaremos como o Almada Negreiros, contra todos os Dantas deste país: «Quero ser espanhol!»
«Escrita-em-dia» não defende o puritanismo, mas também não cala a revolta quando se lhe deparam asneiradas de bradar aos céus.
Alguns exemplos recentes de asneiradas publicadas na nossa imprensa (entre parêntesis a respectiva correcção):
· impediu que o negócio se concretiza-se (concretizasse)
· emiratos (emirados)
· pré-definido (predefinido)
· metereológica (meteorológica)
· infraestrutura (infra-estrutura)
· corropio (corrupio)
· concerteza (com certeza)
· retratar-se (retractar-se, desdizer-se)
· bogalhos (bugalhos)
· desplicente (displicente)
· dispender (despender)
· élite (elite)
· inflacção (inflação)
· interviu (interveio)
· inclusivé (inclusive)
· vidé (vide)
· logotipo (logótipo)
· obcessão (obsessão)
· perfomance (performance)
· rectaguarda (retaguarda)
· cheque-mate (xeque-mate)
. conselho (concelho de Lisboa)
. caiem (caem)
. organigrama (organograma)
. traumatismo crâneo-insufálico (crânio-encefálico)

Tuesday, November 29, 2011

Ao remexer o baú das velharias encontrei uma pequena brochura na qual estão compiladas crónicas publicadas em «A BOLA», nos anos 70 e 71, antes, portanto, do 25 de Abril. Reli esses textos com saudade, até porque remetem-me para a idade da inocência.
Vivia-se em plena censura e «A BOLA» não era excepção. Eu próprio testemunhei inúmeros textos cortados com o lápis azul, mas essa é outra história... Carlos Pinhão, subchefe de Redacção, convidou vários escritores para colaborar em «A BOLA» e essas crónicas estão reunidas num pequeno livrinho, editado já depois do 25 de Abril pela então Direcção-Geral dos Desportos. Guardo-o religiosamente, porque se trata de um documento importante, até pela forma como mostra que a censura também podia ser (e foi) «fintada».
Urbano Tavares Rodrigues, Ruben A., Luís de Sttau Monteiro, Artur Portela Filho, Manuel da Fonseca, Baptista Bastos, Romeu Correia, Ruy Belo, Antunes da Silva... Estes alguns dos autores dessas crónicas esquecidas. Como aperitivo, reproduzo aqui uma parte da bela crónica de Baptista Bastos:

«Agora, nesta máquina onde redijo um português incompetente, o português incompetente que sou lembra-se de uma voz antiga que vem dele e dos da seita: feito ponta-esquerda de um desafio singular, onde uma data deles jogam à direita, com árbitros comprados, com aplausos pagos pelo preço do tostão, feito ponta-esquerda desse desafio – como poderia ser campeão? Ou desportista?
O Bastos, que foi amigo íntimo de um desta casa, diz-me, muitas vezes, quando a raiva me possui e a escrita não é tão livre quanto eu desejaria; quando, no futebol distrital, que é o desta nossa vida comovida e discreta, eu leonizo contra tudo o que é faz-se ismo; quando bebo de mais porque a tristeza é o vinho da vingança; quando, quando isso tudo, o Bastos, meu velho campeão falhado, que me fez e aqui estou, grita assim:
– És parvo ou quê? E então o Cândido; e então o Cândido, puto da minha vergonha! Ele também jogava na ponta-esquerda!
(E aí, companheiros, eu volto à escrita: foi ontem, é hoje, será amanhã. Campeões sem murro certo, com a certeza de que, mais dia menos dia, os Baptistas, os Bastos de todo o mundo vão acertar no semovente alvo da felicidade.)»

Friday, November 04, 2011

Por vezes, quase sinto necessidade de ser «tocado» por um deus qualquer, mas logo o pensamento racional se sobrepõe, qual «polícia» de serviço permanente, e tudo volta à estaca zero. Mas gosto de frequentar certos lugares, como por exemplo as igrejas. Durante largos anos, trabalhei no Bairro Alto (Lisboa), bem perto da Igreja de S. Roque, no Largo da Misericórdia, onde eram frequentes os concertos de música sacra. Sempre que possível, lá ia eu, como quem não quer a coisa... Sentava-me no fundo da igreja e ali ficava a ouvir aquela música misteriosa, naquele espaço fantástico.
Quando visito a aldeia natal, na Beira-Baixa, também não resisto a entrar na igreja. Há tempos, chovia e apeteceu-me fazer algo: ler Fernando Pessoa («Chuva Oblíqua») naquele espaço sagrado. Não aconteceu, mas juro que um dia ainda hei-de partilhar (gosto desta palavra facebookiana) a experiência.

Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...
Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro...
O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...
Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro...
A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel...
E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa...


...

Não foi a primeira vez que se me deparou uma situação gira, na aldeia beirã. Sempre que alguém perde algo, recorre a determinada pessoa. Ela reza (três vezes) a «Oração de Santo António» e... as «coisas» aparecem! Desta vez, um fulano perdeu a carteira, enquanto colhia o mel. Voltas e mais voltas e... nada! Até que surgiu essa pessoa, rezou a oração e... a carteira apareceu!
Apesar de ser homem de pouca fé, não deixei de pedir que rezassem por mim, na esperança de recuperar muito do que ficou perdido pela longa estrada...

Oração de Santo António

Santo António se levantou
e seus sapatinhos de oiro calçou
Seu bordãozinho à mão direita tomou
Seu caminho caminhou
e o Senhor encontrou

E o Senhor lhe perguntou:
– Tu, António, pra onde vais?
– Eu consigo vou, Senhor...
– Tu comigo não irás... Tu na Terra ficarás. Quantas missas se disserem, tu, António, as ouvirás. Quantas coisas se perderem, tu, António, as acharás. E ao seu dono, António, as entregarás
.

Wednesday, November 02, 2011

Abundância e Macarrão

Em Outubro de 1987, na Redacção de «A BOLA», após uma jornada da Taça de Portugal, diverti-me a descobrir nomes esquisitos de jogadores que actuavam, na altura, em Portugal. Carlos Pinhão, com o seu sentido de humor, achou piada e publicou os nomes giros do futebol português. Mais tarde, um leitor de «A BOLA», Fernando Tordo (esse mesmo, o das cantigas), «pegou» no tema e acrescentou à lista mais uns tantos nomes. Depois, foi a vez de Duda Guennes (o brasileiro mais português que conheci...) também publicar nomes giros de brasileiros (e que nomes!).

Este fim-de-semana deu-me para vasculhar o baú das velharias e descobri alguns textos publicados em «A BOLA» de 17-X-87 e 24-12-87, a este propósito. Carlos Pinhão faz a introdução, o texto que se segue é do Fernando Tordo:

Já em «A BOLA» de 17-X-87, aqui publicámos uma longa lista de nomes invulgares de jogadores, pacientemente elaborada pelo nosso companheiro Manuel Sequeira, depois de uma jornada da Taça de Portugal. Agora é o Fernando Tordo quem volta ao assunto e assim canta, isto é, conta:

Partindo do princípio de que nem Eusébio é um nome vulgar, torna-se mais fácil perceber como é possível um tordo escrever a um pinhão. A minha mãe não pára de me chamar Nandito e até amigos meus, que são das músicas, me chamam «O Gordo». Não dá para ficar chateado. Eles também não se aborrecem quando os chamo de «Charmosos» ou «Marrecos», porque é sempre muito mais importante quem são e o que fazem. Muito bem, diga-se de passagem.
Vem isto a propósito da Taça de Portugal e da exaustiva relação de equipas e nomes de jogadores que o vosso jornal nos fornece nestas e noutras alturas, facto que ilustra o respeito que nos merecem todos os intervenientes desta popularíssima prova. Verificamos, então, que pelo meio de tanta equipa existem nomes de jogadores que nos trazem ao rosto e ao espírito um sorriso, não o sorriso de escárnio mas o sorriso feliz de quem consegue encontrar, até nos nomes de alguns jogadores, a alegria do grande jogo -- o futebol.
Neste caso, em vez de os procurar isoladamente e fazer uma selecção, vou mais além e escolho (mandando para toda ela um abraço) a equipa do Serpa: Bicho; Fernando, Canhita, Pepe e Chorão; Gil, Pardal, Laguza e Rolim; Abundância e Macarrão.
Parabéns, igualmente, para o grande Lusitano de Évora, que não está nada mal aviado, não senhor... Não foi o excelente Frasco quem disse que, se não fosse o nome, se calhar ninguém reparava nele?
Para terminar, aqui vai uma lembrança do meu amigo Diamantino, que conheceu e viu jogar, lá para as bandas do Tojal, esta «colecção» que é apenas fabulosa: Gentil; Tempero, Vozona, Val do Rio e Paulinho; Entendido, Aparelho, Penteado e Chino; Pachalica e Vampiro.

Nomes giros do futebol português (1987):

Maluka, Kongolo, Mito, Major, Kipulo, Mapuata, Kiki, Escurinho, Bombas, Bala, Caneco, Fan, Mozart, Babá, Tonrró, Picoto, Cachina, Zaica, Lila, Gaivoto, Pirata, Tuna, Sambaro, Palmeirão, Mocho, N´habola, N´Dinga, Amante, Americano, Biginho, Beazia, Basófia, Becas, Buraquinho, Chapita, Chorão, Canastra, Cabaceira, Cobra, Cabritos, Camões, Copita, Catalão, Caraça, Cacau, Carocha, Chedas, Carapau, Capacete, Carrana, Cuca, Coca, Calçador, Charrua, Cepeda, Chalana, Carioca, Chicão, Caló, Cossanta, Comboio, Chanica, Chapa, Camané, Canã, Esmada, Eira, Elisário, Falica, Gato, Gabirro, Gaivota, Galvanito, Ginho, Garran, Guerrinha, Gaipo, Israel, Inglês, Joca, Jojó, Jacol, Janota, Kafa, Ladela, Lúzio, Lazeiro, Machão, Migidio, Martelo, Mussá, Maneco, Margalho, Machina, Mergulhão, Milhães, Mansilha, Maninja, Minho, Moleiro, Mirradinho, Nacib, Nino, Oeiras, Ourives, Popina, Pixote, Picanço, Piranga, Preguiça, Paciência, Piloto, Picado, Paganini, Pirra, Peruano, Passarinho, Pejo, Pelé, Quinotes, Rim, Rui Belo, Ruefe, Rilhas, Rodeia, Serambeque, Sanina, Stugo, Santo António, Safarra, Sinaleiro, Sereno, Segura, Tadeu, Tatera, Tróia, Tutas, Tita, Tute, Viçoso, Vitinha, Vilacova, Xuxa, Zoinho, Zorrinho...

Todos estes nomes de jogadores constam de «A BOLA», em Outubro de 1987. Aliás, no jornal da Travessa da Queimada também colaboravam, nesse tempo, alguns nomes giros: Cachaça, Caipira, Chanoca, Cantanhede, Tristão, Lisboa, Manta, Palrão, Estanislau, Barrinhas, Brilhante, Vinagre e, já agora, Sequeira!

E nem os árbitros escapavam: Banha, Portulês, Júlio Dinis, Andrelino, Sargaço, Caipo, Cortiço, Estriga, Sabença, Costeira, Ourives, Amendoeira, Caracol, Vacas, Caroço, Crujo...

Saturday, October 15, 2011

Valha-me Sigmund Freud!

Não é da idade, juro, esta sina de me esquecer dos nomes das pessoas. Fixo as caras, os locais, mas quanto a nomes... nada! Ainda adolescente, li um ensaio de Freud («Psicopatologia da Vida Quotidiana») em busca de resposta. Pouco entendi! Feito adulto, reli-o, pensando que derivasse da verdura juvenil a minha incapacidade de alcançar luz sobre a leitura freudiana. Continuei na mesma, como igual permanece esta minha fraqueza. Num restaurante, surge alguém que não vejo há anos; no cinema, cruzo-me com uma cara bem conhecida – mas o nome não me ocorre.
Pessoa amiga já sabe que o truque é afastar-se discretamente por uns instantes, para eu não ter de apresentá-la, porque passados uns segundos a imagem vaga começa a delinear-se-me em contornos claros... e o nome estala! Outras vezes demora mais tempo. Não raro surge quando vou a conduzir ou antes de adormecer.
Já percebi que tem a ver com o contexto. Se em Lisboa encontro alguém que conheci no Algarve ou em Montes da Senhora se me depara um sujeito que encontrei em Castelo Branco, fico despistado. Há tempos, num restaurante do Bairro Alto, dei comigo a conversar com um personagem familiar. Foi o meu último acidente! O seu nome ficou-me encalhado num neurónio qualquer... Eu dava voltas ao miolo para encontrar uma saída e arrisquei: «Olha o Carvalho Araújo!» Ele veio em meu socorro: «Acho que estás a fazer confusão... Carvalho Araújo é o nome de uma rua ali para os lados da Praça do Chile. Eu sou o... Carvalho dos Santos!»
Fiquei aborrecido e revelei-lhe esta antiga falha de um fusível na minha memória. Que se mistura, por vezes, com outra deficiência: perder-me nos parentescos. Quando me dizem que X é sobrinho-neto do pai de Y, boa noite! Quando a minha mãe me diz que faleceu o fulano tal que era casado com a fulana tal, primo de não sei quem, e se põe a dissertar sobre as ligações genealógicas... mudo de assunto!
Valha-me Sigmund Freud!

Friday, October 14, 2011

Guia prático (mínimo) do hífen

Confesso alguma relutância em aderir ao novo acordo ortográfico. Sinto arrepios quando leio textos abrasileirados na «Visão» e noutras publicações, mas enfim, se calhar fiquei «velho do Restelo» sem me dar conta... Para os rapazinhos como eu, resolvi partilhar o guia prático (mínimo) do hífen, que tanto me ajudou nos tempos de revisor (à moda antiga...).

Ab (antes de R)
Ad (antes de R)
Além (por possuir acento gráfico)
Ante (antes de H)
Anti (antes de H-I-R-S)
Aquém (por possuir acento gráfico)
Arqui (antes de H-I-R-S)
Auto (antes de vogal-H-R-S)
Bem (antes de vogal-H)
Circum (antes de vogal-H-M-N)
Co (quando tem o sentido de a par)
Com (antes de vogal-H)
Contra (antes de vogal-H-R-S)
Entre (antes de H)
Ex (quando significa um estado anterior: ex-director)
Extra (antes de vogal-H-R-S)
Hiper (antes de H-R)
Infra (antes de vogal-H-R-S)
Inter (antes de H-R)
Intra (antes de vogal-H-R-S)
Mal (antes de vogal-H)
Neo (antes de vogal-H-R-S)
Ob (antes de R)
Pan (antes de vogal-H)
Pós (por ter acento gráfico)
Pré (por ter acento gráfico)
Pró (quando significa a favor de)
Proto (antes de vogal-H-R-S)
Pseudo (antes de vogal-H-R-S)
Recém (antes de qualquer palavra)
Semi (antes de H-I-R-S)
Sob (antes de B-H-R)
Sobre (antes de H)
Sub (antes de B-H-R)
Super (antes de H-R)
Supra (antes de vogal-H-R-S)
Ultra (antes de vogal-H-R-S)
Vice (quando o segundo elemento tem vida à parte)

Wednesday, October 12, 2011

Diz-se que as mulheres vivem mais tempo que os homens. Já li algo sobre o assunto, mas não me lembro onde e quando. Porém, se dúvidas tivesse, elas ficariam desfeitas ao visitar a (minha) bonita aldeia beirã de Monte do Trigo, no concelho de Proença-a-Nova (Beira-Baixa). Só recentemente dei conta de que grande percentagem dos moradores, já de idade avançada, é formada por mulheres. Poderia apresentar uma estatística de toda a aldeia (é pequena), mas limitei-me a contabilizar a Rua da Sobreira: das dez casas lá existentes, seis são habitadas por viúvas. Esta realidade pode ainda ser confirmada no cemitério da aldeia – aos domingos, a percentagem de mulheres junto às campas é muito maior que a dos homens.
Vultos de preto vagueiam pelas ruas. Quando nos cruzamos, a conversa desagua quase sempre nos males de que padecem – os da alma e os outros. As viúvas formam uma pequena comunidade e rezam muito. A religião é a sua âncora.
Gosto de visitar a aldeia, mas seria incapaz de viver lá muito tempo. Ao fim de alguns dias, o lado urbano chama por mim. Mas faz-me bem respirar ar puro, dialogar com gente de outras gerações, de outros mundos. Tenho imensas saudades do meu pai e do tio João Garrido. Quando eu chegava, este último aparecia escorado na bengala e os três rumávamos à sua adega, um esconderijo subterrâneo do tempo das invasões francesas, onde se bebia (e ainda bebe, graças ao João) um vinho divinal. Eu desligava e eles viajavam pelas suas memórias...
Quando estou na aldeia, fico com a mente mais disponível para a reflexão. Não acredito em deuses, mas dão muito jeito... Que seria destas viúvas sem o seu deus protector?

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